quarta-feira, 22 de outubro de 2008

AMOR AO PRÓXIMO: O POBRE E O PEQUENINO

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O NT deixa evidente a predileção de Jesus pelos pobres, pelos pequeninos do Reino. Por aqueles irmãos que sofrem e que, por isso, precisam ser amados de uma forma toda especial. O amor concreto aos pobres decorre, em primeiro lugar, da maneira como Jesus se relacionou alhures com os homens, isto é, ele se fez pobre para amar os pobres.
Amá-los, contudo, não se resume à distribuição de esmolas ou a uma atividade filantrópica. Todas as ações em favor desses irmãos têm como princípio o amor ao Homem-Deus que nasceu, viveu e morreu absolutamente desprovido de riquezas, honras e vaidades. Jesus dignificou o pobre e inaugurou a pobreza evangélica. Aquela pobreza, diferente, pois, da miséria, que consiste no despojamento das coisas por amor ao Reino; na perda da notoriedade de uma origem divina para estar em meio às mais desprezíveis criaturas humanas: “(...) famintos, sedentos, forasteiros, nus, enfermos, encarcerados.”[1]
Se Jesus, origem e plenitude do amor assim viveu, cabe aos homens responder a ele com estas mesmas atitudes. Isso significa dizer que a relação de comunhão com o pobre deve começar pela assistência generosa àquilo que lhe falta na urgência do momento presente. Está com fome? Deve comer. Está enfermo? Deve ser atendido, visitado e assistido até sua morte ou sua recuperação. Falta-lhe sentido à vida? Deve ser compreendido, deve poder ver no cristianismo a convicção, a força e a alegria do Ressuscitado. Além disso, deve ser acolhido na comunidade de fé, se estiver de acordo. Atitudes como essas concretizam o amor e desmistificam um cristianismo hipócrita de belas palavras e poucas ações.
Sabe-se, porém, que muitos são os desafios ao cristianismo[2]. Os tempos e as circunstâncias da vida são mutáveis e sempre mais complexas. Imutável, porém, é o amor. Ele é promessa de Deus e garantia da realização de Sua santa Vontade. Por ser criativo, o amor adapta-se e relaciona-se com todas as realidades humanas. Deste modo, quando há autêntica comunhão, a ‘pobreza torna-se uma riqueza de dons’, pois só o amor tem a paradoxal força de multiplicar-se quando é dividido com os irmãos.
A caridade ao pobre, para ser verdadeira caridade cristã, deve ter sua raiz no amor que Cristo trouxe à terra. Ele, em sua época, na Palestina, fez da vida uma completa doação aos pequeninos. Hoje, da mesma forma, continua a inspirar uma gama incontável de ações em prol aos mais necessitados. Não são poucos os cristãos e pessoas de boa vontade que transformam parte ou a totalidade se suas energias em obras de caridade. Não é raro observar que muitos destes que se fazem “pobres em Cristo” transformam-se, por assim dizer, em ‘evangelhos vivos’ de amor a Deus e ao próximo.
O amor levado às últimas conseqüências realiza a Palavra de Jesus – citada por Bento XVI em sua Encíclica – que diz: “Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes”. Esta identificação de Cristo com os pobres, comenta Lancellotti, “é um dos aspectos mais altos e mais impressionantes de toda a mensagem evangélica”[3].
Fazer-se pobre pelo Reino de Deus, a exemplo de Jesus é viver o amor como a única norma da existência humana. É poder contemplar, na face do pobrezinho, a face do Senhor despojado de si mesmo, servo, abandonado e obediente até a morte, e morte de cruz (Cf. Ef 2,8). No irmão pobre é que o amor se torna “critério para a decisão definitiva sobre o valor ou a inutilidade de uma vida humana”[4].
Portanto, todo aquele que experimenta o amor de Deus é impelido a amar. E quando responde despojando-se de tudo para acolher Jesus no pobre terá a alegria de (re)descobrir e de realizar, na própria vida, a Palavra que diz “(...) a mim o fizestes”(Mt 25,40).
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Diácono Éderson.
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[1] BENTO XVI, Papa. Carta Encíclica Deus Caritas Est. N.15. São Paulo: Paulinas, 2007. p. 29.
[2] Em uma belíssima reflexão sobre a relação entre dor e amor na vida cristã, Chiara Lubich fala dos frutos concretos de uma alma generosa que consegue transformar suas dores em caridade ao irmão. De fato, sabemos que amar o irmão não é fácil, principalmente os pobres, aqueles que não nos mostram muitos atrativos (humanamente falando). Amá-los, decerto, provoca uma espécie de dor, pois é um passo que só encontra sentido se for por Deus. Contudo, diz Chiara, quem prova a dor – neste caso os pobres e os pequeninos – e a oferece como dádiva de amor, prova os efeitos de Deus na forma de misericórdia. “Deus mostra, de modo mais alto e novo, algo que vale mais ainda do que a dor. É o amor aos outros, em forma de misericórdia, amor que faz abrir os braços e o coração aos infelizes, aos mendigos, aos martirizados da vida, aos pecadores arrependidos. Amor que sabe acolher o próximo desencaminhado, seja ele amigo, irmão ou desconhecido e perdoa-lhe infinitas vezes (...). é uma caridade que floresce mais abundante, mais universal, mais concreta do que aquela que a alma antes possuía (LUBICH, Chiara. Meditações. Vargem Grande Paulista: Cidade Nova, 2000. p 60).
[3] LANCELLOTTI, Angelo. Comentário de São Mateus. Petrópolis: Vozes, 1980. p. 220.
[4] BENTO XVI, Papa. Carta Encíclica Deus Caritas Est. N.15. São Paulo: Paulinas, 2007. p. 29.

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