quarta-feira, 15 de outubro de 2008

PENSAMENTOS A PARTIR DE FREDERICO NIETZSCHE

Pensamentos a partir de frases de Frederico Nietzsche[1]

“Após o cansaço da busca, Aprendi o encontro.
Após afrontar vento frontal, Navego com todos os ventos”
(Frederico Nietzsche).

Por que ainda insistimos em brigar com Aquele que nos ama? Às vezes, penso eu, que somos duros de coração e fracos de inteligência...Que o Senhor nos ajude na santa viagem do encontro com Ele! Apesar de nossos cansaços...
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“Aqueles que procuram repouso. – Reconheço os espíritos que procuram o repouso pela grande quantidade de objetos sombrios que dispõem a seu redor: aquele que deseja dormir obscurece seu quarto ou se enfurna em uma caverna. Indicação para aqueles que não sabem o que mais procuram e que bem o gostariam de saber” "(Frederico Nietzsche).

Fiquei pensando em duas coisas: o repouso de Deus e o repouso do mundo. Eu me pergunto: "Que tipo de repouso procuro?” Ora sempre procuramos algum...Mas para responder, penso que é preciso que eu pense o seguinte: aquilo que meu coração deseja, minha mente pensa e minhas mãos realizam é atividade de um espírito que pode agir à luz do dia ou de um espírito que procura objetos sombrios na calada da noite? Desejo que tu te assemelhes sempre mais Àquele que Luz e Repouso de pax! E que teus objetos e tuas relações sejam como refletores que ajudem outros a acharem o que procuram.
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“Felicidade da renúncia. – Quando se renuncia a alguma coisa e por muito tempo, se porventura a reencontramos quase acreditamos que a descobrimos...e quão é a felicidade do homem que descobre! Sejamos mais sábios que as serpentes que ficam demasiado tempo deitadas ao mesmo sol” "(Frederico Nietzsche).

Penso que a vida é feita de escolhas e de renúncias. Na real, acho que tanto uma renúncia quanto uma escolha, por menor ou maior que sejam, devem valer a pena. Escolho alguma(s) coisa(s) porque renuncio a outra(s) e renuncio alguma(s) coisa(s) quando escolho outra(s). O fato é que devo perder alguma(s) coisa(s) para ganhar outra(s) e vive-versa. Isto acontece na vida (humana) natural que – me desculpem – não tem muita diferença da vida de outros animais!Mas na vida sobrenatural que acontece o paradoxo, ou seja, o que os olhos da natureza carnal não conseguem compreender: na vida sobrenatural cristã, o perder é o ganhar! Sim, perdemos para ganhar muito mais. “Quem deixar....(nossa...aqui...posso...dizer...tanta...coisa...) por causa de mim, receberá o cêntuplo na terra e herdará o Reino dos céus”, disse Jesus. Só compreende isto quem consegue olhar para o céu e pensar em Deus. Desejo que não sejamos como as serpentes: rastejam na penumbra, possuem uma alegria do estômago e das genitais, mas são incapazes de contemplar o que há nos céus! Terrível! Terrível é saber que muitos de nós, SERES HUMANOS, vivem como estes seres que são incapazes de perder para ganhar: simplesmente não pensam! Quero Senhor nos ajude a perder muito neste dia de hoje.
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“Sempre em nossa sociedade. – Tudo aquilo que é de minha espécie, na natureza e na sociedade, fala-me, louva-me, encoraja-me... O resto não o entendo ou o esqueço imediatamente. Estamos tão-somente em nossa própria companhia”.(Frederico Nietzsche)

Nietzsche me faz hoje pensar sobre nossa humanidade. Tudo o que é humano é expressão de beleza e de verdade; é digno de nós. Uma vez alguém ganhou um presente, um objeto muito bacana. Teve uma grande alegria, mas não maior do que celebração da amizade de quem o presenteou. De fato, o que nos faz ser mais pessoas e menos objetos nos deixa mais realizados e mais felizes. Isto me faz entender que quando formos para o céu só levaremos nossas boas relações construídas e cultivadas. O resto, as coisas, bem... o resto ficará por aqui mesmo, tentando desviar e instrumentalizar algumas pessoas.
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“Ser profundo e parecer profundo. – Aquele que se sabe profundo esforça-se por ser claro, aquele que deseja parecer profundo à plebe esforça-se para ser obscuro. Pois o populacho tem por profundo tudo aquilo de que não pode lobrigar a fundo: é tão timorato e tem tanto repugnância de se meter na água!” (Frederico Nietzsche).

Pensei o seguinte: o verdadeiro sábio apreende uma realidade (um assunto, uma técnica...) e a transmite a outros com clareza. Mas quem apreende uma realidade e não sabe transmiti-la, é egoísta e/ou limitado; geralmente tende a falar muito, enrolar mais ainda e se utilizar de palavras de efeito para preencher o precioso tempo e espaço do conhecimento. É aquilo que dizia Renato Russo em uma de suas canções: “Fala demais por não ter nada a dizer”. Quem entende e transmite um conhecimento com clareza, realmente é sábio e esforça-se para ser mais claro ainda. Este tosco e obscuro pensamento que transmito talvez seja uma forma clara de mostrar o quanto é ainda obscuro! É preciso profundidade, digo a mim mesmo! Mas quem não precisa?
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Nossos pensamentos. – Nossos pensamentos são as sombras de nossos sentimentos – sempre mais obscuros, mais vazios, mais simples que estes” (Frederico Nietzsche).

O que pensamos e o modo com o qual pensamos é expressão daquilo que sentimos. E quanto mais sentimos, mais fantasiamos para podermos sentir com maior intensidade. Mas o quê sentimos? Pergunto. E o quê pensamos? Insisto. Quem pode controlar os sentimentos e os pensamentos? Não sei. O que sei, porém, é que se minha vida seguir apenas o que sinto, estou perdido! Por quê? Porque não sinto só amor, alegria e felicidade. Sinto também ódio, raiva, inveja, solidão... Mas – podes me perguntar – não bastaria sentir um pouco de amor, alegria e felicidade para guiar a vida? Digo-vos: sim! Mas também ironizo-vos: o que o ser humano tem mais tendência a sentir? Ódio ou amor? Vomito-vos: ódio! Só amamos se aprendemos a amar. Não é preciso aprender a odiar...No mundo animal, o leão ruge, corre e mata sua presa. Está odiando? Não! Está sobrevivendo. No mundo “humano”, muitos de nós não rugem, mas sorriem uns para os outros. Estamos amando? Nem sempre. Talvez até estejamos odiando, matando e estraçalhando o outro com os sentimentos, com os pensamentos e com coração. O que fazer? Parar de sentir? Impossível e irracional. Parar de pensar? Menos ainda. Não percebo outro caminho senão o caminho do sentir, pensar, querer e agir segundo Cristo, nossa única e insubstituível resposta. Sem Ele posso te matar sorrindo, te amar mentindo e viver pensando que sou feliz.
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“Na solidão. – Quando se vive só não se fala muito alto, não se escreve também muito alto: receia-se o eco, o vazio do eco, a crítica da ninfa Eco. Todas as vozes têm outro timbre na solidão” (Frederico Nietzsche).

De que solidão Nietzsche está falando? Certamente da mais terrível delas: a solidão absoluta do homem sem Deus, sem fé e sem os outros! Isto é o NADA. Mas nós humanos não podemos viver no nada, pois nossa aspiração aponta para o TUDO, para o alto. Penso que quem vive neste tipo de solidão, o pouco que se fala, que se escreve e que se deixa ecoar, é muito alto – ensurdecedor! Na verdade, o medo está no eco. Ah... o eco... aquela ressonância cheia de som, mas vazia de sentido; que se esvai no tempo e no espaço infinitos sem retorno, sem resposta, porque não há o outro para responder. Mas há, ainda, um tipo de solidão tão terrível quanto esta: a solidão daqueles que estão no meio de muitos, mas continuam só. Por vezes bradam sem serem ouvidos; choram sem serem consolados; morrem sem serem percebidos! Na solidão social nem mesmo há ecos. São muitas vozes que em meio à confusão, à gritaria e à correria, perdem-se como folhas secas nos ventos de outono. Pergunto-me, então, como perceber o TUDO, no alto, o Belo e a Verdade nisto tudo? Há um caminho? Consternado, mas convicto digo: Sim! Penso que o primeiro passo é não mais buscar o TUDO no nada do mundo, mas no meu nada descobrir o TUDO que habita em mim e que, diferentemente das outras vozes, fala muito alto dentro de todos nós porque é companhia segura, escreve também muito alto porque desenha, com um fio de outro, o nosso destino e que, por fim, não receia o eco porque há a segura resposta de si e dos outros; Deus! Portanto, quando encontramos o TUDO dentro de nós, ainda que estejamos em momentos de solidão, estamos plenamente acompanhados! Afinal: “Todas as vozes têm outro timbre na solidão”.
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“O pensador. – É um pensador: isto quer dizer que se empenha em tomar as coisas com maior simplicidade que realmente contém” (Frederico Nietzsche).

O que nos diferencia dos outros animais (os não racionais, claro)? A consciência. Com ela podemos assimilar novos conhecimentos para não reproduzir, irrefletidamente, automatismos, animalidades e erros que um dia cometemos. É assim mesmo? Bem, pelo menos só o fato de pensar já nos torna diferentes dos animais... Verdade? Bem, (de novo!) pelo menos somos superiores aos animais... (sugiro um pequeno silêncio, semelhante ao luto). Mas quem pensa e pensa com profundidade, relaciona-se com a verdade e transcende todas as coisas materiais. Isto é bom? Certamente. Contudo, pensar é também sinônimo de sofrimento, pelo simples fato de que quem pensa (como ser humano, naturalmente), consegue discernir sobre os mistérios dos homens e de Deus. Isto é bom? Sim e não! Sim porque nossos pensamentos (de preferência) elevam nossa vontade e nossos sentimentos à contemplação da suprema Verdade, que é Deus. Não porque quanto mais se aprofunda sobre as realidades humanas e divinas, mais se visualiza a podridão humana e a “inalcançável realeza divina”. O que nos resta então? “(...) tomar as coisas com maior simplicidade que realmente contém”. Por quê? Porque nossa humanidade não pode, com sua miserável potencialidade, dar um salto qualitativo e repentino para retirar de si tudo o que é mau, sem antes elevar um pensamento novo. Tampouco alcançaremos, por nossas próprias forças, a realeza de Deus, sem acolher a sua Vontade. Não sejamos estúpidos, como fora Adão! És um(a) pensador(a)? Cuidado com teus pensamentos: eles te deixam mais semelhantes ao humano e ao divino ou mais semelhante aos animais!
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“Onde estiverdes, cava fundo, a fonte fica embaixo. Os homens sombrios que gritem: “embaixo fica o inferno” (Frederico Nietzsche).

Onde está a profundidade dos homens? Não, não me diga que não há resposta porque há. Talvez nós não saibamos onde ela esteja. Isto é diferente. Mas como ser profundo hoje em dia se não conhecemos nem mesmo a nós mesmos, quanto mais os outros, o mundo e Deus! Se as fontes estão no mais profundo de todas as coisas, como alcançá-las? Com que meios e com que justificativa? (Ai Deus...). Só de pensar que há realidades a serem descobertas e que estão além de nossa retardada ciência, tenho a vontade de parar de pensar. Bem... ainda assim me conto feliz porque, ao menos, sei da necessária busca de profundidade em todas as coisas. Penso estarmos à frente de muitos espíritos que tropeçam em suas vãs filosofias, contentes por investigar aquilo que seus olhos, ouvidos e demais sentidos conseguem, às apalpadelas, intuir. Mesmo assim me pergunto o como e o porquê aprofundar-se no máximo possível se não conheço o mínimo indispensável. São muitas as tentativas, mas me contento com apenas uma: o silêncio. Sim, quanto mais fundo cavar, mais silêncio me encontrarei. As águas mais profundas são as mais silenciosas, assim como os poços mais fundos são os mais límpidos, já dizia um velho sábio. Os homens: os mais silenciosos são santos ou são demônios! São santos afáveis ou piedosos manipuladores...Em outras palavras, são aqueles que mais intencionam o bem ou o mal. Sabes que tipo de gente Jesus mais enfrentou? Os silenciosos e sombrios fariseus, os túmulos caiados: belas esculturas por fora, mas cadavéricos por dentro! Por quê? Porque silenciavam única e exclusivamente para seus próprios interesses. Eram profundos sim, mas cavavam até onde levava o dinheiro. Então, que profundidade queremos? O Senhor do Silêncio, que é a fonte por onde jorram riquezas imperscrutáveis. N’Ele está a profundidade do homem. Ele é a razão do silenciar e a única via do encontro com o mais profundo de todas as coisas. Deus é o principium de todas as coisas. Assim como todos os números ad infinitum dependem do número um para existirem e serem compostos, da mesma forma tudo no mundo depende da fonte primeira: Deus. Se O descobrimos em noss’alma, descobrimos a nós mesmos, inclusive. (E também o que somos capazes de fazer!).
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“Não fiqueis nos baixios. Não subas às alturas. O mais belo mirante do mundo está no meio da encosta” (Frederico Nietzsche).

Ver a realidade do mundo por baixo, pode ser sinal de desprezo e confusão: não se vê direito e o que se vê, se percebe dubiamente. Talvez conhecer e amar uma pessoa vendo seu calcanhar apenas. Por outro lado, ver a realidade do mundo por cima, pode ser sede de amor próprio; estar acima do bem e do mal e esquecer-se da mendicante condição humana. Agora, contemplar o horizonte apesar dos obstáculos... É sabedoria. Pode-se ver tudo e a todos sem concorrer com as formigas que labutam sem parar, tampouco concorrer com o sol, absoluto e observador desta nossa condição. Talvez o horizonte seja mesmo o meio termo: em baixo posso não só ver como ser pisoteado; em cima vejo a dimensão de minha própria queda. Mas pelo horizonte do equilíbrio, me realizo no sempre áureo tempo presente. Isto não quer dizer que vejo pouco ou vejo muito, mas o suficiente: daqui, de onde estou, vejo um mundo de realizações, o belo mirante que compartilho com os outros.
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“Se não desejas cansar olhos e sentidos correm atrás do sol à sombra” (Frederico Nietzsche).

Diante de uma luz muito forte, os olhos doem e a condição humana se perde na luminosidade, a ponto dos sentidos ficarem turvos e imprecisos. Mas isto é exceção. Assim como é exceção permanecer em meio às trevas. Habitual é estar no paradoxo, labutando, remoendo e mendigando ora na luz ora nas sombras. Contudo, o anseio de contemplar o Sol é grande, é infinito. Mas o temor de queimar as pupilas e perder os sentidos faz olhar para baixo. O que fazer diante desta indecisão? É também questão de escolha, como a maioria dos dilemas humanos... . O fato é o seguinte: deve-se optar enquanto há tempo! Mas como escolher a luz se as sombras são atraentes como vinho doce? Mais que isso: elas fazem parte da sorte dos homens! E como estar imediatamente na luz se, diante dela, o corpo humano sempre fará refletir sombras ao chão? Não...não! Quem ainda rasteja sobre a terra não pode dizer que está absolutamente na luz, pois continua desejando-a. Ora, quem já está nela não mais a deseja – não se deseja aquilo que já se possui absolutamente! Para os espíritos fracos, é mais fácil morrer do que pensar em sua própria condição. Mas há respostas? Não, há uma só resposta: assumir as sombras em si como ocasião para se buscar mais e mais a luz. Afinal de contas, o quê dá a devida imponência à Luz senão a pérfidas sombras? Os espíritos fortes e cheios da Luz (aqueles que se assumem diante dela, é claro) farão delas sombras, aliadas na busca e no encontro com o Sol de Justiça que dos altos céus queima, ilumina e abençoa o vale das sombras. Eis, desejador: “corre atrás do sol à sombra".


Diácono Éderson.

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[1] Importante: não quero aqui fazer uma interpretação da filosofia de Nietzsche e forjar uma realidade diferente daquilo que ele quis escrever, pois não tenho elementos suficientes para tanto. Quero apenas divulgar algumas idéias que me inspiraram ao ler frases esporádicas deste grande filósofo.

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